É claro que esse gosto das pessoas pelo pistache não vem de hoje. O pistache sempre foi muito popular fora do Brasil, especialmente na Itália, Turquia e Estados Unidos -- que, por sinal, também são grandes produtores. Além disso, há algumas décadas, o sorvete com sabor de pistache (que era só essência, quase nada do fruto em si) foi uma sensação em geladeiras de supermercados, até se tornar um tanto quanto ultrapassado e até brega.
“Acredito que o rompimento das fronteiras no consumo, impulsionado principalmente pelas mídias sociais, é o principal responsável por estimular novos sabores aqui. Existem infinitos conteúdos com produtos incríveis feitos de e com pistache por aí”, diz Murilo Bonadio, idealizador da Flavorati, confeitaria no Ipiranga com toda uma linha de produtos de pistache.
Mais chefs, além de confeiteiros, também estão embarcando na onda. Salvatore Loi, do Giro Ristobar, é um exemplo: tem, dentre outras opções, um tartare de filet mignon com pistache e manteiga queimada, a R$ 55. “É a moda atual, como já foi o cacio e pepe, amatriciana e carbonara”, avalia o chef, ao Paladar. Segundo ele, o ingrediente combina com todo tipo de doce e de salgado. “Dá harmonia única no prato, com seu perfume e sabor”.
A preocupação dele, hoje, é em como esse sucesso todo pode atrapalhar a encontrar pistache de qualidade no Brasil. “É a parte ruim do modismo: com o custo elevado de importação, as pessoas acabam usando genéricos, como essências, pastas e afins. O mesmo acontece com os tartufos em azeites. Não há qualidade e o sabor é artificial”, diz.
A maioria dos chefs consultados por Paladar sobre o sucesso do pistache segue pelo mesmo caminho: o grão veio pra ficar. É claro que esse ‘boom’ todo também conta com algumas coisas do momento, como o desejo das pessoas em sobremesas menos doces.
“Acredito que a tendência ao preparar sobremesas que sejam menos doces pode ter contribuído. Por o pistache puxar para o lado salgadinho, ele traz equilíbrio para a sobremesa”, contextualiza a confeiteira Nana Fernandes, do Açucareiro da Nana.
A real preocupação, porém, está nas pessoas comerem as pastas preparadas achando que estão comendo pistache de verdade e isso, no fim das contas, prejudicar esse sucesso.
“Não se corre o risco do pistache entrar em exaustão pela alta demanda, mas sim pelas pessoas não gostarem [do sabor] por conta das pastas e essências”, diz o chef pâtisserie Francisco Soligon, do Èze. “Precisamos fazer preparos que enaltecem o ingrediente para que possamos levar conhecimentos e novas experiências para os demais. Quando o consumidor se der conta de que o pistache é uma castanha que combina com todos os tipos de preparações entrará no gosto popular e estará presente em muitas mesas”.
Fonte: Estadão
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